Economia Compartilhada (EP) e a Agenda 2030 da ONU
Lendo com atenção os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da Agenda 2030 da ONU, especialmente os de nº 12 e de nº 17, juntamente com os respectivos dados revelados pela organização, verificaremos que eles estão em sintonia com o que é, a meu ver, o propósito fundamental da Economia Compartilhada (EP): constituir uma potencial ferramenta para aproximar as pessoas, possibilitar a partilha de informação e a melhor racionalização dos recursos que levem a padrões de consumo consideravelmente mais sustentáveis. Dessa forma, configura-se uma verdadeira “parceria” e contribui-se para a missão global, gerando o desenvolvimento sustentável de toda a sociedade.
Analisemos os ODSs 12 e 17:
® ODS 12.Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis
Vários pontos críticos devem ser considerados e são fortes empecilhos para a sua efetivação, como por exemplo:
· 1,3 bilhão de toneladas de comida são desperdiçadas diariamente;
· O mundo economizaria 120 bilhões de dólares anualmente, se as pessoas usassem lâmpadas de baixo consumo;
· A população global deve chegar a 9,6 bilhões de pessoas até 2050 e o equivalente a três planetas seriam precisos para prover os recursos naturais necessários para sustentar o estilo de vida atual;
· Mais de 1 bilhão de pessoas ainda não têm acesso à água potável.
® ODS 17.Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável
Destaco algumas informações para a compreensão dos avanços e dificuldades da execução de tal diretriz:
· A Assistência Oficial ao Desenvolvimento (OAD) levantou aproximadamente 135 bilhões de dólares em 2014;
· Em 2014, 79% dos produtos de países em desenvolvimento entraram no mercado “duty-free” de países desenvolvidos;
· A dívida dos países em desenvolvimento continua estável, beirando 3% do rendimento de exportação;
· O número de usuários da internet na África quase dobrou nos últimos quatro anos.
· Em 2015, 95% da população mundial têm cobertura de sinal de celular;
· 30% da juventude mundial são de nativos digitais, ativos online por pelo menos cinco anos;
· A população mundial apresentou aumento do uso da internet de 6% em 2000 para 43% em 2015, no entanto, mais de 4 bilhões de pessoas não usam esta rede, e 90% delas são originárias de países em desenvolvimento.
Verifica-se, pois, que ainda há um longo caminho para mitigar as atuais gigantescas discrepâncias e carências na racionalização dos padrões de produção e de consumo, assim como o progressivo esgotamento dos recursos naturais. O movimento da Economia Compartilhada poderá vir a ter um papel importante em fortalecer os meios de execução de um crescimento mais sustentável. E de que forma? Dando um exemplo e questionando o leitor: o conceito de partilha de apartamentos e quartos que a Airbnb e outros serviços afins trouxeram, vieram ou não para alterar a forma como os cidadãos olham para o setor de hospedagem e, sobretudo, conseguiram ou não dar uma resposta para uma melhor racionalização da construção civil? No meu julgamento, sim porque este conceito de partilha evitou que se continuasse a construir novos edifícios habitacionais e a saturar as cidades com mais concreto, utilizando-se da lógica do aproveitamento de recursos (quartos e apartamentos) que existem em abundância.
Eu chamo esta perspectiva, precisamente, de melhor racionalização dos ativos já presentes na sociedade. Da mesma forma, temos os serviços de empresas como o Uber ou do Drive Now em Portugal que são um caminho a ser explorado para combater o constante frenesi em construir e produzir automóveis porque levam o consumidor a questionar se valerá a pena comprar um carro. Além disto, mesmo que ele já possua um automóvel, poderá optar por usar um tipo de serviço de transporte que lhe garanta (1) qualidade do carro –, (2) baixo custo quer em termos de preço, quer em termos de tempo e (3) assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis (ODS 12).
Há, portanto, um enorme potencial nas novas plataformas de constituírem um meio de implementação de práticas mais sustentáveis e, dessa forma, contribuírem para a revitalização de uma verdadeira parceria global para o desenvolvimento sustentável (ODS 17).
Tendo em mente estas colocações, há, no entanto, um elemento fundamental neste processo: o uso da web 2.0. Sem ela, soluções como a da Airbnb, Uber ou Drive Now não existiriam. O mundo precisa explorar todo o potencial da web 2.0 e do movimento da Economia Compartilhada, possibilitando que as mencionadas 4 bilhões de pessoas que ainda não a usam, possam também contribuir para a melhor racionalização dos recursos.
Faltam, no entanto, ainda 12 anos para as metas das ODSs 12 e 17 serem alcançadas, mas impreterivelmente o tempo está se tornando escasso. Estar-se-á realmente a se fazer todo o possível para conseguir esse tal desiderato de 2030? Deixo esta pergunta em aberto...
(João Miguel O. Cotrim, 2018)
Ph.D. Candidate in Management at ISCTE Business School, Lisbon, Portugal.
Tel: +351 915283960 | Skype: joaocotrim2 | E-mail: joaocotrim@yahoo.com.br
Referências:
Nações Unidas (2017) Conheça os novos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. (Online) Disponível em: https://nacoesunidas.org/conheca-os-novos-17-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel-da-onu/(Acessado em: 11 de Março de 2018).